Reprodução: Site da Embrapa
file frango laboratorio
Reprodução: Site da Embrapa

Filé de frango de laboratório tem desafios para chegar ao prato, mostra Embrapa

Ainda há um longo caminho para a carne sintética popularizar, mas tecnologia é opção futura para ajudar a combater a insegurança alimentar do planeta

Redação

em 14 de abril de 2023


A carne de laboratório ou carne sintética está em primeiro lugar quando se fala em tendências para a alimentação do futuro. No Brasil, os primeiros testes para criar o filé de frango de laboratório estão avançando. “Mas ainda há um longo caminho para isso se tornar realidade”, explica Vivian Feddern, vice-gestora do Núcleo Temático de Produção de Aves da Embrapa e líder do projeto de carne sintética da instituição. A especialista se apresentou no ANUFOOD Brasil, evento que aconteceu entre os dias 11 e 13 de abril em São Paulo.

“A carne cultivada surgiu para ser um apoio para alimentar a população crescente do mundo. Até 2050, a produção de alimentos feita apenas a partir dos sistemas atuais não vai conseguir alimentar todo mundo”, disse Feddern. A maioria dos projetos, no entanto, tenta replicar a carne bovina.

Feddern conta que, de todas as empresas e startups que já estão no mercado das carnes cultivadas – ou carnes de laboratório – 25% são voltadas para tentar replicar bifes ou hambúrgueres, 22% são ligadas à proteína de frango e 19% à de peixe e suínos. Quando ela lembra que o frango é a carne mais consumida no mundo e no Brasil, a especialista aponta haver uma oportunidade para o filé de frango cultivado.

Do ovo à galinha (de laboratório)

O processo para se criar células em laboratórios começa a partir de um ovo embrionado. Depois, retira-se a célula-tronco e, então, se induz a diferenciação da célula. Em outras palavras, os cientistas têm uma “página em branco” e podem recriar as partes e tecidos mais interessantes para a nutrição no laboratório, como as fibras ou as gorduras.

Após a diferenciação da célula, aguarda-se o crescimento dos tecidos para misturá-los, recriando as qualidades de um filé de frango saboroso. É possível também acrescentar nutrientes, vitaminas e minerais para chegar ao formato esperado. “A equipe é diversa, já que é um conceito que vem da medicina, da ciência de tecidos”, comenta Feddern. Vivian é engenheira de alimentos e trabalha lado a lado com médicos, biólogos, zootecnistas e geneticistas. 

A pesquisa da Embrapa começou em 2021 e, atualmente, os cientistas da instituição buscam os melhores suportes para que as células cresçam em tecidos. Os testes da equipe de Vivian são para usar bactérias comestíveis. Assim, o tecido pode crescer num espaço que poderá ser consumido. Para esse bando de células virar um filé, é preciso que cresçam em biorreatores e sejam testadas em termos de sabor e consistência.

“Ainda estamos bem no começo, engatinhando, nos primeiros passos com a tecnologia”, comenta a pesquisadora.

Se os passos já estão sendo dados pela indústria, o governo também tem feito sua parte. Pelo menos no mundo. Nos Estados Unidos, o FDA aprovou o uso da carne cultivada em produtos empanados. 

Não será o fim da pecuária!

O tempo para o cultivo da carne varia entre duas e quatro semanas, bem menos do que os dois anos que levam para um boi crescer. Tal fator também pode ser benéfico para ajudar na segurança alimentar do planeta no futuro. E Vivian deixa claro que é bem no futuro mesmo, quando as técnicas já forem testadas, aprendidas e replicadas pela indústria. Nos cálculos da cientista, esse processo deve levar mais de dez anos.

“Isso quer dizer que a pecuária está com os dias contados? Não. Muito longe disso. As coisas podem e devem coexistir”, disse Feddern. Para ela, a carne de laboratório vai ser mais um item em um menu vasto e saudável para todos.