Foto: Stuart Wilson/ COP28 via Flickr UNclimatechange
florestas tropicais
Foto: Stuart Wilson/ COP28 via Flickr UNclimatechange

“Florestas tropicais não são apenas reserva de carbono”, diz Marina Silva na COP 28

Ministra apresenta proposta inédita de Fundo Floresta Tropical para Sempre em Dubai

Redação

em 8 de dezembro de 2023


O Brasil apresentou uma proposta inédita de criação de um fundo de financiamento para preservação das florestas tropicais em todo o mundo, o que envolveria cerca de 80 países. A proposição foi detalhada na COP 28, com a presença de dois ministros – Marina Silva, do Meio-ambiente e Mudança do Clima; e Fernando Haddad, da Fazenda – além do secretário de Clima, Energia e Meio Ambiente do Ministério das Relações Exteriores, André Corrêa do Lago. 

De acordo com a ministra, as florestas tropicais não são apenas reserva de carbono, mas também um depositário de inúmeras espécies e um elemento importante para o equilíbrio hídrico. Com cerca de 1,4 bilhão de hectares no planeta, elas também são uma forma “de ser e estar no mundo”, na avaliação de Marina. A ministra reforçou que as florestas tropicais funcionam como uma espécie de “ar condicionado” mundial, ajudando a manter a temperatura global mais baixa em cerca de 1 °C. 

Com todos esses benefícios, ela defendeu que a criação do fundo não é uma doação, mas um mecanismo de pagamento por serviços de ecossistema que são prestados por cerca de 80 países, alguns deles em condições de vulnerabilidade. O pagamento seria feito a partir dos recursos de fundos soberanos de países desenvolvidos que, na avaliação de Marina, usufruem dos benefícios que as florestas tropicais propiciam. 

“São dois instrumentos, sendo que um incentiva a proteção das florestas e outro desincentiva a destruição dela. Não se trata de caridade e nem de doação”, explicou. 

Florestas Tropicais para Sempre

Oficialmente, a iniciativa intitulada Fundo Floresta Tropical para Sempre (FFTS) geraria recursos que seriam usados em projetos para preservação das matas e desenvolvimento econômico dos povos que nela vivem ou dela dependem. Além dos fundos soberanos, o FFTS poderia captar recursos da indústria do petróleo e de investidores no geral. A rentabilidade líquida do fundo seria a fonte de pagamento para os países tropicais, conforme o tamanho de cada nação.  

A proposição foi detalhada pelo diretor geral de serviço florestal brasileiro, Garo Joseph Batmanian, que destacou o aspecto conceitual da proposta, uma vez que o projeto definitivo será resultado da contribuição dos 80 países que possuem florestas tropicais e cuja especificidade deve ser respeitada. Garo lembrou que a ideia é ter o projeto finalizado até a COP 30, que acontecerá em Belém (PA) em 2025. 

Para ele, o fundo deverá ser usado para valorizar a floresta em pé e também para reduzir os desmatamentos. A ideia inicial é ter um mecanismo simples de manutenção a longo prazo, medido por hectare. A proposição também estaria em linha com o Acordo de Paris, na medida em que manteria fluxos financeiros compatíveis com a trajetória de desenvolvimento de baixo carbono.

Modelo financeiro

Na prática, o dinheiro poderia ser usado pelos 80 países que têm florestas tropicais. Para ter direito ao dinheiro, eles devem manter o desmatamento abaixo da taxa que for definida, além de precisar ser um desmatamento em queda ou muito baixo. Além disso, o país deve desenvolver mecanismos transparentes para alocação do dinheiro e ter métodos confiáveis de medição de cobertura florestal.  

Ainda de acordo com Garo, os fundos soberanos detêm atualmente cerca de U$S 12 trilhões, sendo que os 13 maiores fundos estão com oito países que somam recursos de US$ 8,8 trilhões. Ele lembra que a maior parte dos fundos soberanos foram capitalizados com a venda de petróleo e combustíveis fósseis. 

A proposta sugere um aporte inicial de U$S 250 bilhões para que o fundo comece a funcionar. “Isso significa menos de 20% dos ativos de baixo risco que esses 13 maiores fundos soberanos possuem”, adiantou Garo.