mulheres na pecuaria

Mulheres na Pecuária: nasceram na fazenda, e agora lideram o negócio

Mulheres na Pecuária: nova geração de fazendeiras entra de vez no campo e mostra que para honrar o legado, é preciso transformá-lo

Redação

em 17 de novembro de 2022


Elas cresceram em cima do cavalo e com as botas sujas de terra. A família delas veio do campo e elas nunca quiseram sair de lá. Elas nasceram e renasceram na fazenda. Primeiro como filhas e netas de grandes produtores rurais, depois como líderes do negócio. Cheias de ideias e de pulso firme, elas levam o legado para a frente. Na terceira parte do Especial Mulheres na Pecuária, é hora de contar um pouco das histórias das sucessoras do agronegócio.

Liderança e terra

Enquanto muitas das produtoras do agronegócio se espelharam nas figuras masculinas da família, Carolina Palmeiro, diretora e sócia da Estância São João I e Estância São João II, localizadas no sul do Rio Grande do Sul, teve nas mulheres a inspiração de liderança na fazenda. “Minha família é um matriarcado. Minha avó liderava a estância e minha mãe era o braço direito”, conta Carolina.

Na época de Elgia Amaro Leite, avó paterna de Carolina, apenas homens estavam à frente das fazendas. Ela “transgrediu” as convenções para liderar a produção agrícola na Estância. Hoje em dia, Elgia seria chamada de empreendedora. Naquele momento, no meio dos anos 60, era apenas vista como “uma mulher avançadinha para a época”.

Carolina cresceu com esse exemplo de liderança e também com o exemplo que significava ser empreendedora: falhar e dar a volta por cima. A Estância que Elgia liderou acabou tendo um revés financeiro grande, o que obrigou a avó e a mãe de Carolina a se afastarem do campo. Elgia arrendou as terras. E, por um tempo, tudo ficou assim. “Minha avó era uma pessoa muito forte, quando elas descobriram que tinham quebrado, ela seguiu de cabeça erguida e falou ‘a gente cai e a gente levanta de novo’.

Quem levantou e levou a família de volta para o campo foram Carolina e suas irmãs.  “A união com elas me dá mais força para continuar lá”, diz Carolina. Novamente as mulheres na frente. Com respeito ao que vem da terra, a produtora passou a colocar gado nas partes não arrendadas e Carolina foi, aos poucos, convencendo a avó que “ali tinha negócio”. 

O rebanho cresceu e chegou às atuais 1,2 mil cabeças, com 400 matrizes e com a perspectiva de chegar a 700. Tudo cresceu em uma relação entre gado e lavoura.  “A história dessa estância foi a minha vida. A gente cresceu dentro da Estância, minha irmã foi para lá com uma semana de vida. Minha história está enraizada lá”, contou Carolina.

Raízes e frutos

As raízes do campo também fazem parte da história de Camila Marcon, líder da Fazenda Marcon, no Mato Grosso. Seu pai, Nelson Marcon, foi o responsável por transformar 100 cabeças em 300 mil na fazenda que fica próxima à Poxoréu, cidade no centro-sul do Mato Grosso. 

“Desde criança falava que seria veterinária. Eu amava ir para fazenda, ficar por lá. Eu queria estar ali”, lembra Camila. Marcon acabou indo estudar em Curitiba, no Paraná, a centenas de quilômetros da Fazenda. Ficar esse tempo longe mostrou para a veterinária o que ela já tinha certeza: o lugar dela era com o gado e no campo. 

Quando terminou a faculdade, Camila voltou para se especializar em Proxoréu. Aos poucos, a produtora virou a “sombra” do pai,. “Acompanhei o dia a dia por anos. E quando entrei de vez na fazenda, mantive o mesmo ritmo”, disse Camila. O ritmo, no caso, é o de “acordar às 4 horas da manhã, tomar um chimarrão com os funcionários e ir embora de noite, depois de saber que está tudo encaminhado com os animais”, conta.

Nos primeiros três anos em que Camila atuou na fazenda, o maior desafio foi fazer parte dos colaboradores e de aceitarem que ela não era mais “a criança que brincava ali”. “Foi trabalhoso e desgastante a questão de mostrar que não estava aqui só para mandar, mas sim como uma parceira. Para juntar o que eles tinham na prática e o conhecimento que adquiri fora. Com isso, a gente poderia ser mais eficiente no dia a dia e não trabalhar só com os braços, mas também com a cabeça”, disse Camila.

Atualmente, o pai de Camila a visita na fazenda nos finais de semana. “Ele nunca parou de buscar inovação, tecnologia, mas eu estou fazendo o operacional agora”, diz a veterinária, com o orgulho de quem sabe que está reproduzindo um legado. O lema de Marcon, que ela fez questão de escrever e colocar na entrada da fazenda é: “produzir mais carne de qualidade em menor espaço”. 

Expectativa e realidade

A história de Mariana Figueira, diretora da Agropecuária Xaraés no Mato Grosso, se assemelha com a de Camila. Ambas cresceram nos campos. As duas se formaram em veterinária e foram movidas pelo sonho de infância. Figueira, no entanto, teve de assumir mais rapidamente a fazenda, por questões de saúde de seu pai. 

“Eu sempre estive muito presente na fazenda, mesmo quando fazia faculdade. Mas quando você chega para atuar, é diferente. O dia a dia é diferente. Eu brinco que eu caí de paraquedas. Cheguei a me perguntar: como pode, uma pessoa criada dentro da fazenda ficar tão perdida assim?”, brinca Mariana.

Quando passou a liderar a operação, Mariana teve um outro baque: o braço direito de seu pai, que o acompanhava há 21 anos, pediu para sair.

Totalmente à frente da Agropecuária Xaraés, ela foi responsável, portanto, por colocar novos modelos de pecuária intensiva e de tecnologia do campo em prática. Mas essa história vai ficar para a terceira parte do Especial Mulheres na Pecuária, quando falaremos sobre inovação e como o futuro do campo será feminino.