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Pecuária formal não contribui para o desmatamento, afirma Paulo Pianez

A afirmação é do diretor de Sustentabilidade da Marfrig, Paulo Pianez, que defende a rastreabilidade da origem e destino dos animais como forma de controle

Redação

em 8 de abril de 2023


“Empresas formalizadas e sérias não têm qualquer relação com o desmatamento”. A frase é de Paulo Pianez, diretor de Sustentabilidade e comunicação corporativa da Marfrig, que considera que a Guia de Trânsito Animal (GTA), documento com finalidade sanitária, também deveria ser utilizada para fins de rastreabilidade da origem e destino de cada bovino. Mas, além disso, ele defende também a adoção de um mecanismo de identificação individual dos animais, prática já adotada no Uruguai e na Austrália.

Em entrevista ao Broadcast Agro, Pianez destaca que a ação é importante para que o Brasil continue a exportar carne bovina para mercados importantes, porém exigentes do ponto de vista ambiental, como é o caso da União Europeia. Lá, a entrada de produtos (não somente a carne, mas as demais commodities) produzidas em áreas desmatadas está vetada.

Paulo Pianez (Foto: Reprodução/ Perfil LinkedIn)

Mas não somente a Europa tem restrições. O Reino Unido, isoladamente, e os Estados Unidos também seguem no mesmo caminho. “As regulamentações possuem suas nuances e particularidades, mas os desafios são semelhantes. Ou seja, para que uma empresa possa exportar, ou para que as empresas de lá possam comprar de produtores de commodities, é necessário estar absolutamente de acordo com essa legislação”, afirmou Pianez. 

Para o executivo, seria importante identificar e monitorar todos os fornecedores de gado do Brasil, um trabalho que poderia levar entre 10 e 12 anos. “É essencial viabilizar uma política pública para promover a rastreabilidade. Isso permitiria que o Brasil pudesse mostrar a origem da produção pecuária e da carne”, destacou, ressaltando que a Marfrig está preparada para mostrar que cumpre todas as exigências socioambientais.

Atualmente, a companhia já conseguiu identificar 71% dos fornecedores presentes na Amazônia e 72% dos que estão no Cerrado.

Neutralidade de emissões

Pianez também afirma que até 2050 a Marfrig deve alcançar a neutralidade de carbono, em linha com o Acordo de Paris. Atualmente, a empresa alcança o índice de 71% de monitoramento das emissões indiretas na Amazônia e 72% no Cerrado.

“Estas emissões estão identificadas, monitoradas e controladas, dentro da estratégia de implementação de identificação e controle de origem do gado. Partimos da definição das áreas de mais alto risco, indo para as demais, até chegar ao baixo risco”, explica o executivo. Segundo ele, para 2023, os números de identificação devem ficar entre 75% e 77%. “Então, temos absoluta certeza de que, até 2025, teremos 100% da cadeia rastreada para a Amazônia e esperamos estar muito próximos de ter uma rastreabilidade completa também para o Cerrado”, garante.

Pianez também contou que nos últimos dois anos a Marfrig regularizou e reintroduziu mais de 2,6 mil produtores que tinham algum tipo de pendência socioambiental e que, em função disso, estavam bloqueados da lista de fornecedores.

Para tanto, a empresa ofereceu suporte e assistência técnica em regularização documental, ambiental ou fundiária para os fornecedores, processo que deve continuar em execução. Para 2023, a Marfrig tem a expectativa de regularizar pelo menos mais 500 pecuaristas. 

Produtores regularizados não interferem no desmatamento

Para Pianez, a pecuária formal não causa o desmatamento. “Quando falamos de pecuária que está vinculada ao desmatamento, nem chamo de pecuária. Na verdade, é muito mais a rotação de boi para marcação de áreas que são especuladas do ponto de vista fundiário”, afirmou.

Em sua avaliação, o que falta para que a rastreabilidade funcione é que sejam criados mecanismos financeiros para dar acesso aos pequenos produtores. “Temos 2,5 milhões de produtores, dos quais 75% se dedicam à cria, os chamados pequenos e médios produtores”, explica. “Quando nós entendemos um pouco do que é o contexto desses produtores, conseguimos perceber sua realidade e necessidades”. 

Pianez destaca que as deficiências passam pelo baixo nível de tecnologia aplicada à produção, pouco acesso à assistência técnica e ausência de mecanismos de financiamento, como crédito rural. Além disso, normalmente existem problemas de regularização fundiária e ambiental. 

Além da criação de instrumentos de crédito, o executivo destaca que a indústria tem papel essencial, como mitigadora de riscos. “Mas o papel do governo também é importante. O poder público tem que ter políticas que atendam ao desafio da rastreabilidade”, pontua.