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Por que o metano virou vilão e como resolver a questão?

Entender a emissão de metano ajuda a aplicar projetos rápidos de mitigação desse gás, que é 80 vezes mais poluente que o CO2

Redação

em 29 de agosto de 2022


A resposta é simples: ele é o segundo maior gás de efeito estufa (GEE) gerado pelo homem e mais danoso que o dióxido de carbono. Ao mesmo tempo, o metano permanece por um período relativamente curto na atmosfera: as ações que reduzem sua presença podem ser mais efetivas e contribuem para limitar, em curto prazo, o aumento da temperatura da Terra. Iniciativas ambiciosas, por exemplo, para reduzir a emissão do gás, podem evitar 0,3°C de aquecimento até 2050.

Atacar o problema do metano, consequentemente, é uma estratégia inteligente na luta contra as mudanças climáticas. Na prática, a redução também ajuda a melhorar a qualidade do ar, visto que é um precursor do ozônio troposférico (no nível do solo): poluente prejudicial que afeta a saúde humana e a produção agrícola. “Medidas de mitigação de metano já disponíveis podem prevenir mais de 250 mil mortes prematuras e 26 milhões de toneladas de perdas agrícolas todos os anos”, indica o braço brasileiro do WRI, instituto de pesquisa presente em mais de 50 países. 

Outro dado que torna o metano um alvo importante é que as ações de mitigação, muitas vezes, podem ser implementadas com custo baixo, ou até sem custos, proporcionando benefícios econômicos significativos para governos e empresas. Na verdade, em muitos casos, as ações ainda geram economia depois que os investimentos iniciais são pagos. 

Muitas das medidas de mitigação também já estão disponíveis nos principais setores emissores de metano, como de energia, agropecuária e de resíduos urbanos.

Agropecuária, energia e resíduos 

Doze países são responsáveis ​​por cerca de dois terços das emissões globais do metano: China, Rússia, Índia, Estados Unidos, Brasil, União Europeia, Indonésia, Paquistão, Irã, México, Austrália e Nigéria. Além de geograficamente definida, a emissão também é monitorada por setores, sendo que três deles são responsáveis por 95% das emissões: energia (35%), agropecuária (40%) e resíduos urbanos (20%). 

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O setor agropecuário, que lidera as emissões de metano, ocupa essa posição principalmente pela fermentação entérica (arroto das animais), cultivo de arroz e manejo de esterco. Mas as ações para reduzir isso já existem, como a adoção de práticas de produção aprimoradas, que podem aumentar a produção de gado. Nos casos em que for mais difícil promover uma redução nas emissões, como na fermentação entérica, os recursos incluem inovações tecnológicas, como a nutrição diferenciada. 

Recentemente, uma matéria produzida pelo Prato do Amanhã, mostrou que o Grupo agropecuário que congrega a Jacarezinho e a MFG mapeou avanços em genética sustentável levam à redução de emissões por tempo produtivo, à medida que os especialistas estão identificando linhagens de bovinos que emitem menos metano na ruminação. “Implementamos, em parceria com o Instituto de Zootecnia (IZ) e a universidade holandesa Wageningen University & Research, uma tecnologia de mensuração de gás metano emitido por animal, e estamos validando esse e outros insights”, adianta o especialista.

A solução consiste em uma tubulação acima da narina do animal, que capta e armazena em uma bolsa os gases emitidos na ruminação. O dispositivo é combinado aos dados de ingestão de alimento e água, de modo que, toda vez que o animal acesse o cocho e o bebedouro, são coletados dados sobre o consumo.

As informações são transmitidas por internet móvel, provida por uma rede de fibra óptica própria da fazenda, e seguem para o software onde são avaliadas as conversões alimentares (quantidade de alimento x ganho de peso). 

Os dados de alimentação são cruzados com a quantidade de gás metano expelido, permitindo uma análise no que tange o índice de emissões de poluentes durante a sua vida útil. Esses dados ainda são usados para análises genéticas, a fim de descobrir as linhagens que produzem mais, consumindo menos alimento e ainda emitindo menor quantidade de gás metano.

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Outra frente de ataque na agroindústria seria a redução da perda e do desperdício de alimentos.
Aproximadamente um terço de todos os alimentos produzidos no mundo é perdido ou desperdiçado em toda a cadeia de alimentos. A produção agrícola, por sua vez, é responsável pela maior parte dessas perdas, agravando a insegurança alimentar em nações vulneráveis. Muitos fatores estão associados a esse problema, incluindo perdas ou degradação durante a produção.

Metano no setor de energia

No setor de energia, a maior geração ocorre pela exploração de petróleo e gás, dois insumos que concentram em torno de 14% das emissões de metano que ocorrem ao longo de toda a cadeia de abastecimento desses combustíveis. Um dos maiores problemas está nas chamadas emissões fugitivas de equipamentos com vazamento, que nada mais são do que falhas no sistema e processos deliberados de queima e ventilação. Nesses casos, ficam claras as rotas de melhoria, que podem ser feitas de modo priorizado.

A Agência Internacional de Energia (IHA) estima que cerca de 75% das emissões totais da produção de petróleo e gás metano podem ser evitadas usando as tecnologias existentes.

Da energia para o lixo 

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Os resíduos sólidos fecham a trinca de maiores emissores de metano. Segundo o WRI Brasil, a captura do gás dos aterros sanitários e a geração de energia reduzirão as emissões de metano, substituirão outros combustíveis e criarão novos fluxos de receita. 

Já a Agência de Proteção Ambiental (EPA) dos Estados Unidos prevê que a utilização do gás dos aterros continuará sendo a solução mais barata para mitigar as emissões no setor de resíduos, muitas vezes implementada com custo líquido zero. Um caso real nos Estados Unidos é o da Republic Services, em parceria com a Archaea Energy, para desenvolver projetos de gás natural renovável em 39 de seus 198 aterros sanitários no país. O empreendimento possui um orçamento de US$ 1,1 bilhão e vai, literalmente, transformar o lixo em energia, ao mesmo tempo que sequestra o metano gerado nos aterros. Mas não precisamos ir muito longe: aqui, no estado de Alagoas, o projeto da Alagoas Ambiental já está em pleno funcionamento e criando o mesmo círculo virtuoso.