Acesso a financiamento ajuda produtores na implementação de práticas sustentáveis
Produtores que consideram indicadores relacionados ao ESG conseguem soluções especiais no mercado financeiro, como o financiamento do Rabobank
Um dos agentes mais relevantes para que a sustentabilidade no agronegócio seja instaurada, de forma definitiva, e também para que sejam alcançadas as boas práticas produtivas, o setor financeiro tem usado a criatividade e o seu conhecimento de mercado na estruturação de soluções. O Rabobank, banco de atuação global especializado em soluções financeiras para o agronegócio, é um exemplo de agente que acompanha de perto as necessidades dos agricultores e pecuaristas com o objetivo de, por meio do acesso ao capital, inseri-los na transição para uma economia de baixo carbono.
“Desenvolvemos soluções financeiras desenhadas para produtores que consideram indicadores relacionados ao ESG (ambiental, social e governança), o que significa financiar diretamente práticas ainda mais sustentáveis”, afirmou Taciano Custódio, head de Sustentabilidade do Rabobank na América do Sul, ao Prato do Amanhã.
A visão do especialista é de que, sobretudo, o investimento em tecnologia permite ao produtor expandir sua produtividade, ampliar a rentabilidade do seu negócio e ganhar novos mercados. Como consequência, ganham o meio ambiente e a sociedade. Veja a seguir, os principais trechos da entrevista com Custódio.
Qual a importância de soluções financeiras diferenciadas para promover a sustentabilidade na agropecuária?
O setor financeiro é um elemento-chave na promoção da sustentabilidade do agronegócio brasileiro. Nós, do Rabobank, somos um agente ativo na transição de nossos clientes para uma agropecuária cada vez mais eficiente, competitiva e resiliente frente às novas demandas do mercado consumidor. Ao desenharmos, juntos com nossos clientes, soluções financeiras com taxas e prazos adequados para o produtor rural e empresas do setor, auxiliamos diretamente no fortalecimento do mercado, com indicadores de performance vinculados a critérios ambientais, sociais e de governança.
Como você avalia que essas ações estão sendo endereçadas no Brasil, onde a grande maioria dos produtores é de pequeno e médio porte e, portanto, com baixa condição de investimentos?
O Brasil tem a grande oportunidade de atuar tanto no aumento de eficiência no campo e na produção de alimentos, quanto de mitigar os efeitos adversos das mudanças do clima por meio de práticas mais sustentáveis como a agricultura de precisão, agricultura regenerativa ou sistemas integrados de produção, por exemplo. A disseminação dessas práticas, que inclui também o acesso ao crédito, é de fato um desafio para o País, que envolve governo, agentes privados, setor financeiro, academia, entre outros. No Rabobank, atuamos muito próximos das principais cooperativas de agronegócio no Brasil e compartilhamos as nossas raízes cooperativistas nessa relação, apoiando o crescimento sustentado em pilares que consideram o impacto social e ambiental das operações. Ainda assim, muitos pequenos e médios produtores carecem de acesso a investimentos que os permitam aumentar sua resiliência no campo e eficiência na produção. Acredito que o caminho esteja na construção conjunta dos diversos atores citados, em modelos de ocupação de território que incluam a valoração dos serviços ambientais prestados pelos produtores, de maneira que o Brasil possa reconhecer a importância do pequeno produtor para além da produção de alimentos.
Você pode explicar a importância dos investimentos para viabilizar que a cadeia agropecuária produza de forma mais sustentável?
É por meio do investimento em tecnologia que o produtor aumenta a capacidade produtiva, a rentabilidade e o acesso a mercados e, por conseguinte, o que o permite investir cada vez mais no desenvolvimento social de seu território, levando em consideração o atendimento às responsabilidades ambientais inerentes de suas atividades. No Rabobank, desenvolvemos soluções financeiras desenhadas para produtores que consideram indicadores relacionados ao ESG, o que significa financiar diretamente práticas ainda mais sustentáveis como o uso de bioinsumos e a redução do uso de insumos químicos, além da adoção de sistemas intensificados e também integrados de produção, a adoção de soluções energéticas mais eficientes, o financiamento de máquinas e equipamentos para práticas de agricultura de precisão, entre tantas outras oportunidades de mais tecnologia no campo. Produtor eficiente investe em mais tecnologia e sustenta o futuro de seu negócio de forma cada vez mais responsável.
Quais são os principais projetos de financiamento para o agro nos quais o Rabobank está envolvido, e como eles têm evoluído?
O Rabobank é um agente ativo na transição de práticas de produção com metas de sustentabilidade. Alguns instrumentos utilizados para financiar o agro são os empréstimos vinculados à sustentabilidade (SLL, ou Sustainability Linked Loans, em inglês), instrumentos de blended finance e mesmo projetos relacionados ao mercado de créditos de carbono. Bons exemplos são casos de empréstimos SLL em que o cliente se compromete a reduzir as emissões de gases de efeito estufa, aumentar áreas de produção com práticas regenerativas ou reportar suas atividades via relatórios públicos. Diferentes metas podem ser traçadas em conjunto com nossos clientes e apoiá-lo em práticas de gestão mais sustentáveis de seus negócios.
Outro bom exemplo é o caso do Agri3, um fundo de impacto criado pelo Rabobank, em parceria com a ONU, em 2017, e que investe em práticas de sustentabilidade no campo com prazos bem adequados ao produtor rural, que podem chegar a até 10 anos, com três anos de carência na operação. Essas são somente algumas das oportunidades que podem ser desenhadas para cada realidade de nossos clientes.
Num cenário como o brasileiro, cujo uso da terra é preponderante nas metas de descarbonização, como a cadeia agropecuária e financeira podem agir conjuntamente?
Entendo que por duas vias: aumentar o uso de instrumentos financeiros que estimulem a adoção de práticas mais sustentáveis de produção (como produtividade, acesso a mercados e mais responsabilidade social e ambiental) e disseminar essas práticas para cada vez mais produtores. Quanto mais a sustentação das operações do Agro forem entendidas como uma atuação holística que envolve eficiência, competitividade, desenvolvimento social e territorial, além de ganhos ambientais, mais teremos produtores na busca de adotar práticas de produção que reflitam positivamente em suas operações.
Poderia nos contar sobre o projeto em conjunto com a Netolândia e a importância de iniciativas do tipo?
A operação para o Grupo Carvalho Dias foi uma das realizadas por meio do fundo Agri3 para a proteção florestal e recuperação de pastagens degradadas. A transação, de US$ 5 milhões, com prazo de 10 anos, tem foco no investimento de projetos de proteção florestal ou reflorestamento de 2.581 hectares e a recuperação de 1.200 hectares de pastagens degradadas, contribuindo para o crescimento da produção sem a abertura de novas áreas.
Esse é um exemplo de financiamento que aumenta a lucratividade do cliente e, ao mesmo tempo, acelera o cumprimento da legislação do Código Florestal do Brasil. Essa estrutura, que inclui a redução do risco durante um período de reembolso mais longo, oferece um modelo replicável para o financiamento de investimentos sustentáveis em atividades não geradoras de caixa, como a proteção florestal. Isso reflete o resultado do comprometimento do Rabobank com o desenvolvimento sustentável do país e da parceria de longo prazo com os nossos clientes.