agropecuaria sustentável

No ABC da agropecuária sustentável, o B de Brasil ganha destaque

País pode avançar mais como potência agro, com ações que minimizam as mudanças climáticas e geram riqueza

Redação

em 6 de junho de 2023


A população global deverá atingir 9,1 bilhões em 2050, gerando uma pressão intensa na produção agrícola, segundo a Food and Agriculture Organization (FAO). A tensão vai muito além do campo, pois o segmento consome muita água e energia. Quando cruzamos esses dados, o Brasil surge como um país coringa do futuro, ao combinar sua capacidade de produção de alimentos com a geração de energia limpa e o uso inteligente de água. O resultado é transformar-se numa potência da agropecuária sustentável

Os dados da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) comprovam isso. Segundo a entidade, o efeito transformador da revolução agrícola dos últimos 40 anos é o fato mais importante da história econômica recente do país e continua abrindo perspectivas para o desenvolvimento futuro. Outra informação relevante é que 1 em cada 3 trabalhadores brasileiros estaria ligado ao segmento. Em resumo: podemos ter um crescimento econômico puxado pelo agronegócio, enfrentando os desafios de meio ambiente e ainda com a possibilidade de construir uma sociedade mais justa do ponto de vista social.

Isso, é claro considerando que as empresas do setor agropecuário tenham uma governança para produzir alimentos, de forma sustentável, em biomas que vão da Floresta Amazônica, ao Cerrado e à Caatinga.

Parece familiar? Na prática, estamos falando das letras E (de environmental, ou em português, ambiental) e G (governance, ou governança), nesse abecedário da agropecuária sustentável. Ou seja: seguir a cartilha do ESG, conceito que junta as responsabilidades social e ambiental às práticas de governança. 

Nesse abecedário sem ordem direta de A a Z, o P, de pecuária é outra letra importante. Para o Brasil avançar na rota de superpotência, a pecuária deve se modernizar, passando do modelo extensivo para a pecuária intensiva, trazendo o uso mais eficiente das pastagens. A avaliação é de André Luiz Monteiro, chefe adjunto do Centro de Pesquisa Embrapa Pecuária Sudeste. Para ele, o modelo extensivo deve desaparecer até a próxima década e não tem mais espaço no prato do futuro. 

Agropecuária sustentável reduz emissões de gases 

Monteiro adianta ainda que o Brasil, com 150 milhões de hectares de pasto produzindo carne e leite, não precisa de mais espaço para aumentar a produção. A Marfrig, por exemplo, já oferece ao mercado uma linha de produtos bovinos obtidos a partir de animais originários de propriedades sustentáveis. A carne carbono neutro foi desenvolvida em parceria com a Embrapa e envolve o gado criado em fazendas nas quais as emissões de metano dos animais são neutralizadas pelo cultivo de florestas ou produções agrícolas.

A solução integra os chamados sistemas de Interação Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF). São iniciativas que combinam tecnologia, ciência e uso de técnicas que já eram conhecidas e que fazem todo sentido no solo brasileiro. 

A pecuária pode intensificar as emissões de gases de efeito estufa?

O ILPF tem um papel importante para aumentar o sequestro de carbono da atmosfera, o que apoia ainda mais a neutralidade das emissões de gases de efeito estufa, ao adotar o uso de gramíneas e sistemas de forragem próprios. Ainda nessa área, a alimentação do gado seria a forma mais fácil de reduzir a emissão do metano na pecuária. De acordo com a Embrapa, um pasto bem manejado pode compensar as emissões de dois animais. Já os sistemas com presença de árvores podem compensar a emissão de até dez animais.

agropecuaria sustentavel
Sistema ILPF – Embrapa Cerrados (Foto: Breno Lobato/ Embrapa)

As iniciativas potenciais de agropecuária sustentável não se limitam aos bovinos e o exemplo do Paraná mostra um cruzamento importante entre a produção suína e a potencial geração de hidrogênio verde. Dados da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento paranaense mostram que o número de suínos no estado é o mesmo de seres humanos, porém cada suíno gera uma carga orgânica equivalente ao de sete pessoas.

Essa produção de carga orgânica já vem sendo direcionada – ainda que difusamente – para redes próprias nas fazendas, conectando produtores, e que devem ser a base da estrutura logística da produção da nova energia. São clusters regionais que envolvem a interligação de canalizações de biogás e que têm o potencial para ajudar a viabilizar mercados e redes locais de distribuição, além da construção de um modelo de negócio prático e efetivo. 

Desenvolvimento sustentável da agropecuária preserva os recursos naturais

O D, de desmatamento, evidentemente ganha relevância, mas nem tudo são dados negativos. O país tem iniciativas históricas de monitoramento e controle, como destaca o Banco Mundial no relatório Equilíbrio Delicado para a Amazônia Legal Brasileira – Um Memorando Econômico

É o caso do Programa Áreas Protegidas da Amazônia, lançado em 2002, que atualmente totaliza cerca de 209 milhões de hectares de áreas protegidas ou territórios indígenas, o que equivale a 42% do território da Amazônia Legal. Dois anos depois, o governo adotou o Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal, que inicialmente se concentrava em questões fundiárias e de planejamento territorial; produção sustentável; e monitoramento e controle ambientais.

Produtores rurais

O escopo de mecanismos de controle inclui ainda o Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (DETER) e a atualização do Código Florestal de 1965, com a inclusão do Cadastro Ambiental Rural (CAR), uma inovação em termos de banco de dados e ferramenta de gestão ambiental. Ou seja, o Brasil tem um sofisticado mecanismo de controle para oferecer, por exemplo, rastreamento de sua produção agropecuária em algumas áreas, tendência que deve ser amplificada. 

A tecnologia, base para controle de desmatamentos, também é grande aliada na expansão da agropecuária sustentável. Só nesse quesito, temos um abecedário completo, do B, de Big Data, ao S, de sensoriamento, passando pelo D, dos drones. O escopo é vasto e inclui sensores embutidos em equipamentos de irrigação, permitindo que se aplique uma agricultura de precisão. Também falamos de drones monitorando o comportamento do gado em sistemas de pecuária intensiva e do grande volume de gestão de dados do Big Data. 

A agenda social também é prioridade. Sem esse A, dificilmente poderemos ter uma sociedade justa. Ela é tão importante quanto a presença de um ambiente saudável e da necessidade de rentabilidade econômica. Os especialistas destacam que as licenças de operação da agropecuária sustentável não se restringem ao meio-ambiente. O Brasil, como potência nessa área, necessita de uma licença social, como acontece com outros setores importantes do país, e de mecanismos para incentivar seus pequenos produtores rurais.