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Nelore: a raça sagrada do século 21

Raça Nelore chegou da Índia e se tornou “abençoada” no Brasil e foi essencial para o crescimento da pecuária no país. Saiba mais aqui!

Redação

em 3 de março de 2023


Eles estão em 80% dos pastos de gado de corte brasileiros. São resistentes ao calor e a doenças. Entregam uma carne de boa qualidade em diversos cortes e estão presentes nas cozinhas da maioria do país. De fato, o Nelore é uma raça sagrada no Brasil do século 21. 

“Costumo dizer que o bicho branco que tem cupim é uma máquina de produzir tão eficiente e fantástica que é mesmo sagrado”, diz André Locateli, gerente executivo na Associação dos Criadores de Nelore do Brasil.O Nelore é capaz de produzir carne equilibrada, em quantidade e com qualidade adequada para atender diferentes demandas da indústria e dos consumidores, inclusive os mais exigentes.

A imagem que Locateli pinta, do boi branco com a “corcunda” de cupim nas costas, é tão reconhecida no país que é até curioso o fato de que a raça não estava aqui há 150 anos. E que ela veio de outro continente, diretamente para crescer e se tornar alguns milhões de cabeças no país. Conhecer a história do Nelore também significa saber um pouco do que a criação destes animais promete. 

Caminho das Índias do Nelore

Os primeiros registros da raça chegando ao Brasil são entre 1860 e 1870. Algumas cidades disputam o lugar para ter a fama de ser o primeiro território brasileiro que o bicho pôs suas patas. O que se sabe, no entanto, é de onde os animais partiram: de Nelore, província da Costa Oriental da Índia. Isso mesmo, o Nelore é indiano.

Quando chegaram aqui, até receberam um nome novo, já que a nomenclatura oficial da raça é “ongole”. “Como os animais que chegaram nos portos aqui vinham de Nelore, então ficou conhecido como a raça ‘de Nelore’”, conta Locateli. 

Na Índia, bois e vacas são vistos como sagrados, logo, não eram produzidos para corte e sim para a tração animal. “Na sua origem, a raça era para produção de leite e para tração. No Brasil, a seleção e a destinação da produção foi para a produção de carne, ou seja, com objetivo totalmente distinto de sua origem. E deu muito certo”, aponta o executivo.

Raças como a Angus, diz Locateli, tiveram200 anos apenas de seleção voltada para a produção de carne. Enquanto o Nelore teve um tempo menor para seleção e chegou numa produtividade boa. “Se pensar que o foco produtivo da raça começou a acelerar nos anos 60, é pouquíssimo tempo mesmo”, lembra o zootecnista.

Um motor para expansão

Dos 2 mil animais que chegaram tímidos, o rebanho logo cresceu para se tornar as muitas milhões de cabeças que existem hoje em dia. Junto da explosão do Nelore veio também um outro acontecimento completamente correlacionado: a transformação do Brasil em um dos mercados líderes mundiais na pecuária. Para Locateli, a razão para isto está nas características intrínsecas dos bois e vacas.

“O Nelore é um animal extremamente resistente, extremamente rústico, que suporta condições adversas e clima muito quente. E mesmo em condições assim, as fêmeas seguem procriando. Essas características permitiram a atividade pecuária em diversos lugares no país e, me arrisco a dizer que permitiram a nossa expansão social e econômica”, fala Locateli.

Ser uma das raças mais resistentes ao calor fez toda a diferença quando a produção pecuária do país cresceu para o Centro-Oeste e para parte do Norte, duas regiões com clima extremamente quente, nada convidativo para raças acostumadas com as temperaturas amenas do Sul do país. Isso culminou na passagem do país de produtor para exportador de carne.

Mesmo os cruzamentos raciais que se tornaram populares no Brasil nas últimas décadas têm um “toque” do Nelore.

E agora, Nelore?

Por ser esta raça tão resistente, o Nelore demorou para passar por processos de melhoramento genético. “As benesses da raça nelore foram, ironicamente, um dos motivos que fizeram tardar o aprimoramento e a seleção”, fala Locateli. Movimento que agora está sendo revertido pelo mercado, que procura melhorar a qualidade da carne a partir deste processo.

A Associação dos Criadores de Nelore do Brasil tem um programa voltado para monitoração e análise dos bois no país, o chamado “circuito Nelore”. O projeto se iniciou em 1999 e já mostra avanços da raça. O principal deles é a redução da idade média dos animais levados para o abate. Se no começo dos anos 90 a idade média para o abate rondava os quatro anos e meio, hoje em dia ela está próxima aos dois anos.

Esse indicador é também um demonstrativo de sustentabilidade, já que os bois que engordam em tempo menor emitem menos gás metano durante o ciclo de vida e são mais eficientes para o meio ambiente. 

“A raça está evoluindo agora. São poucos anos de pesquisa e seleção e direcionamento. A qualidade já é intrínseca do produto. Então, para o futuro, só vejo possibilidade de melhorar”, comenta o zootecnista. 

Tal melhoramento é essencial para acatar outra urgência mundial: a produção de comida de qualidade para uma população em crescimento. A raça produz carne com deposição muscular e gordura subcutânea que dá flexibilidade para a indústria, o que significa que a indústria tem mais flexibilidade de produtos para criar com a carne. Em outras palavras: é um alimento bom para o dia a dia das pessoas.

“Ele dá conta de produzir um alimento padronizado e com versatilidade industrial absurda”, diz Locateli.  O prato do futuro do brasileiro (e do mundo) terá um quê de Nelore”, finaliza o executivo.