desperdicio de alimentos

ONU mostra que o desperdício de alimentos pode ser uma das causas das mudanças climáticas

Enquanto as pessoas desperdiçam cerca de 1 bilhão de refeições por dia, quase 800 milhões de pessoas passam fome em todo o planeta

Redação

em 18 de abril de 2024


A ONU, por meio do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e juntamente com a Embrapa Alimentos e Territórios, realizou um estudo que aponta que as pessoas desperdiçam cerca de 1 bilhão de refeições por dia, em todo o mundo. O desperdício de alimentos, além de afetar a economia global e fomentar as mudanças climáticas, alerta para a disparidade social: quase  800 milhões de pessoas passam fome em todo o planeta ou enfrentam situações de insegurança alimentar. 

A colaboração da Embrapa Alimentos e Territórios (Maceió – AL) foi na revisão da etapa de varejo e consumo, que faz parte do levantamento global sobre desperdício de alimentos. Segundo noticiado pela CNN, a realidade é de que, pelo menos, um terço do total de alimentos vai para o lixo, ainda durante o processo de produção. A reportagem destaca que as famílias (no período pesquisado, em 2022) desperdiçaram 631 milhões de toneladas métricas de alimentos – o que representou 60% do total de comida desperdiçada –, enquanto o setor de food service foi responsável por 28%, e o varejo, por 12%

De acordo com o Índice de Desperdício de Alimentos, cerca de 94 kg de alimentos (per capita) são desperdiçados, por ano. Trata-se de uma estimativa que considera apenas o consumo doméstico, resultante de um estudo piloto realizado no ano de 2023, com base em cinco regiões distintas da cidade do Rio de Janeiro.

desperdicio de alimentos

Para Gustavo Porpino, pesquisador da Embrapa Alimentos e Territórios, que atuou como revisor do Índice, o estudo tem diferentes perfis socioeconômicos. “Embora seja um estudo restrito ao Rio de Janeiro (RJ), os dados mostram que o desperdício ocorre mesmo em bairros de classe média baixa. Os fatores que levam ao desperdício precisam ser explorados em pesquisas qualitativas. É importante destacar que o montante leva em conta tanto sobras de refeições, tais como arroz e feijão, quanto cascas de frutas e ossos. A metodologia do PNUMA não categoriza o desperdício em evitável e inevitável, porque consideram relevante reduzir o descarte de resíduos orgânicos como um todo”, justificou o pesquisador. 

Resíduos alimentares

O Índice aponta que, do total de alimentos desperdiçados em 2022, 60% aconteceram no âmbito doméstico, incluindo os serviços de alimentação responsáveis por 28% e o varejo por 12%.

“O desperdício de alimentos é uma tragédia global. Milhões de pessoas passarão fome hoje, enquanto alimentos são desperdiçados em todo o mundo”, declarou Inger Andersen, diretora-executiva do PNUMA. 

Para ela, além de ser uma questão importante de desenvolvimento, os impactos desse desperdício desnecessário estão causando custos substanciais para o clima e a natureza. “A boa notícia é que sabemos que, se os países priorizarem essa questão, eles poderão reverter significativamente a perda e o desperdício, reduzindo os impactos climáticos e as perdas econômicas”, apontou.

Apesar de que, globalmente, os dados em nível domiciliar quase terem dobrado, os países precisam se organizar para reduzir os impactos sociais e climáticos desse desperdício. 

Vale ressaltar que o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 12.3 da ONU prevê a redução de metade do desperdício de alimentos até 2030, especialmente pelo  varejo e nos serviços de alimentação.

O desperdício de alimentos pelo mundo

O desperdício de refeições é alarmante em todo o mundo, especialmente sobre o posicionamento dos países em relação a isso. Apenas quatro países do G20 (Austrália, Japão, Reino Unido e EUA) e a União Europeia têm estimativas reais de adequar políticas para reduzir ou evitar o desperdício alimentar até 2030. 

Outros países como Canadá e Arábia Saudita têm estimativas adequadas no nível de domicílios. Por outro lado, o Brasil ainda caminha com diferentes atividades para desenvolver uma nova proposta para reduzir o desperdício de alimentos no país até o final de 2024. 

Uma informação importante revelada pelo índice é o fato de que o desperdício global não é uma exclusividade dos países ricos. Por outro lado, os países mais quentes registram maior desperdício de alimentos per capita nos domicílios, uma vez que o consumo doméstico envolve mais alimentos frescos. A falta de cadeias de refrigeração adequadas também agrava esse número.

Segundo o levantamento, o desperdício de alimentos gerou de 8% a 10% das emissões globais de gases causadores de efeito estufa. Isso representa quase cinco vezes mais do que o setor de aviação emite. Em suma, esse dado representa uma perda de biodiversidade ao ocupar o equivalente a quase um terço das terras agrícolas do mundo.

Para o Banco Mundial, o custo estimado do desperdício de alimentos na economia global é de aproximadamente US$ 1 trilhão.

“Com o enorme custo para o meio ambiente, a sociedade e as economias globais causado pelo desperdício de alimentos, precisamos de uma ação coordenada maior em todos os continentes e cadeias de suprimentos. Apoiamos o PNUMA ao pedir que mais países do G20 meçam o desperdício de alimentos e trabalhem em direção ao ODS 12.3″, apontou Harriet Lamb, CEO da WRAP.