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Previsões para o agro em 2024: veja o que dizem especialistas dos EUA

Especialistas falam sobre startups, financiamentos, carbono, agricultura e pecuária regenerativas e os caminhos da agroindústria para 2024

Redação

em 15 de janeiro de 2024


De acordo com a Forbes Agro, quase metade da população mundial vive em grupos familiares com pelo menos um membro empregado no setor agroalimentar. Apesar disso, ainda existem muitos desafios na cadeia produtiva do setor de alimentos. Isso porque o sistema alimentar foi fortemente impactado pelas mudanças climáticas e passa por instabilidades, tentando suportar a inflação dos preços e outros incidentes como as guerras em curso e alguns outros impasses, como o caso da estagnada Lei Agrícola americana.

Diante desse cenário, a Forbes Agro entrevistou uma série de especialistas americanos sobre em alimentos e agtech, empreendedores e investidores, com o propósito de ouvir as previsões do agro para 2024.

Entre as perguntas apresentadas pela Forbes, estavam as tendências positivas para 2024, os principais problemas que demandam soluções urgentes e o ambiente de investimentos. Veja a seguir como os especialistas se posicionaram e quais as previsões para o agro em 2024.

1) Agricultura regenerativa terá destaque

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Quase um terço das emissões globais são originárias do sistema alimentar, por isso os especialistas acreditam que a gestão do solo e a agricultura e pecuária regenerativas são fundamentais para a mitigação das mudanças climáticas, principalmente no que se refere à gestão do carbono.

Para Joshua Posamentier, sócio-gerente da Congruent Ventures, com sede na Califórnia, a agricultura é intensa para o tema carbono. “Um problema sobre o qual penso muito é como fazer com que todo o setor passe de carbono positivo para carbono negativo, melhorando, ao mesmo tempo, os custos e o ecossistema. A natureza é a forma mais escalonável de remover CO2 da atmosfera. As terras agrícolas são o melhor lugar para armazená-lo”, apontou o gestor.

Já para Sara Balawajder, diretora de Investimentos da Builders Vision (fundada pelo empresário e herdeiro do Walmart, Lukas Walton, voltada a investimentos de impacto), o mundo está com os olhos voltados para a agricultura e pecuária regenerativas, desde os produtores aos investidores, e isso tende a aumentar em 2024. “A agroindústria precisa de mais dados para validar a ligação entre as práticas regenerativas nas explorações agrícolas e pecuárias e as melhorias na saúde do solo, na mitigação dos riscos das alterações climáticas, na valorização da terra e no aumento da rentabilidade dos produtores”, respondeu Sara.

Para Margaret Henry, vice-presidente de agricultura sustentável da PepsiCo, manter os agricultores no campo de forma produtiva é o mais importante. “Queremos manter os agricultores cultivando em 2024 e ir mais além. As práticas agrícolas regenerativas serão fundamentais para satisfazer a crescente procura de alimentos, ao mesmo tempo em que abordam os principais riscos associados à agricultura e pecuária – mas como empresa, não podemos fazer isto sozinhos. Olhando para o futuro, temos esperança de ver uma maior colaboração entre indústrias e setores, proporcionando às comunidades agrícolas globais o financiamento de sustentabilidade necessário para impulsionar a mudança sistémica”, justificou. 

2) Mercado de proteínas alternativas deve crescer

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A indústria de proteínas alternativas sofreu um golpe em 2023, com baixa avaliação de empresas, como a capitalização de mercado da Beyond Meat, despencando de um máximo de US$ 12 bilhões em 2002 (cerca de R$ 58,2 bilhões na cotação atual) para US$ 500 milhões (cerca de R$ 2,4 bilhões atualmente). Apesar da queda no valor, os investidores e fundadores dessas empresas têm se mantido otimistas.

Para Brian Bernstein, investidor da Rich Products Ventures, braço de risco corporativo da Rich Products Corporation, uma das 50 maiores empresas de alimentos e bebidas e líder na fabricação de alimentos congelados nos EUA, as proteínas cultivadas entrarão em ambientes mais convencionais, aqueles que ficam fora dos restaurantes com estrelas Michelin. “Embora a produção seja inicialmente em menor escala, um conjunto mais amplo de consumidores terá acesso a aves e frutos do mar cultivados”, apontou Bernstein em suas previsões para o agro em 2024. 

Já Joshua Posamentier prevê uma segunda onda de foodtechs de proteínas alternativas. “Veremos um aumento significativo de foodtechs no segmento. Elas devem conquistar a participação de mercado das startups de primeira geração. A agricultura celular levará mais um ano para que qualquer volume se materialize”, completou. 

Arturo Elizondo, CEO e fundador da Every Company, empresa americana de biotecnologia que tem como parceiros a ABInbev e a Ingredion, apoia o desenvolvimento do setor de proteínas alternativas. “Estou otimista com a chegada ao mercado de produtos baseados em tecnologia profunda. Até o momento, a única tecnologia que esteve significativamente no mercado foi a baseada em plantas. Ainda nem arranhamos a ponta do iceberg dos produtos de tecnologia mais profunda (por exemplo, fermentação de precisão). As abordagens focadas em B2B terão muita força. Os produtos estão cada vez melhores. Existem fortes ventos favoráveis ​​por parte de grandes empresas e organizações em torno do reforço das suas cadeias de abastecimento, e mais ênfase nas emissões de escopo 3 (que inclui a cadeia de valor) e nas metas de sustentabilidade. Um bom marketing e a descoberta de formas eficazes e eficientes de combater a desinformação serão fundamentais”.

3) Carbono: medir, reportar e agir

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E como ficam as compensações carbono nesse cenário? Com os meios de divulgação de carbono devidamente legislados na Califórnia e na União Europeia, as empresas estão procurando cada vez mais inserir o cálculo de carbono nas suas próprias cadeias de abastecimento.

“À medida que o setor das proteínas alternativas trabalha no sentido da recuperação, a indústria alimentar e agrícola em geral dará mais ênfase às soluções de inserção de carbono, em vez de projetos de compensação para reduzir o risco climático. Esta mudança levará ao desenvolvimento de novas tecnologias destinadas a reduzir as emissões de metano da pecuária, por meio de ações inovadoras e técnicas de captura de carbono, e na melhoria da saúde do solo usando também inovações biotecnológicas e análises precisas”, afirmou Fabian Gosselin, investidor da Cleveland Avenue, com sede em Chicago, aceleradora da nova geração de restaurantes, tecnologia de alimentos e bebidas. Segundo ele, ferramentas confiáveis ​​de medição de carbono para alimentos e agricultura-pecuária serão fundamentais na reconstrução da confiança do consumidor.

Para Julia Collins, fundadora e CEO da Planet FWD, plataforma voltada à descarbonização, “em 2024, os líderes do espaço alimentar não só terão de reportar sobre o carbono, mas também reduzir as suas emissões. Com legislações de divulgação climática recentemente aprovadas, como a SB 253 da Califórnia, espero ver um aumento de empresas alimentares à procura de soluções tecnológicas para as ajudar a medir, reportar e reduzir as suas emissões de carbono”, pontuou.

4) Tecnologia deve avançar

As mais recentes revoluções tecnológicas nas áreas de alimentação e agricultura foram a Revolução Industrial e a Revolução Verde, que começaram, respectivamente, nas décadas de 1760 e de 1950. De lá para cá, surgiram muitas inovações tecnológicas que afetam diretamente a indústria de alimentos, a agricultura e pecuária, a saúde e a distribuição dos produtos.

Segundo Posamentier, a automatização e a autonomia das operações de culturas especializadas devem crescer consideravelmente em 2024.

Outros gestores ainda apontam questões como adaptação e conformidade para o cumprimento de metas de ESG das companhias. “Empresas focadas em alimentos como medicamentos (incluindo, por exemplo, refeições para condições médicas específicas) e seguradoras progredirão em suas parcerias. Isto será impulsionado pelo aumento de dados e pelo foco na melhoria dos resultados de saúde e no ROI positivo gerado pela mudança para uma dieta personalizada”, declarou Brian Bernstein, investidor da Rich Products Ventures. 

Suzanne Long, diretora de Sustentabilidade e Transformação da Albertsons Companies, empresa americana de alimentos fundada e sediada em Boise, Idaho, também se manifestou sobre o tema. Para ela, uma da principais lições trazidas da COP 28 é que as empresas devem focar em ações que melhorem o desempenho dos negócios, “mas também em reduzir as emissões do sistema alimentar, garantindo a segurança alimentar e nutricional”.  

5) Investimentos devem retornar, com mais foco

O financiamento de capital de risco ficou em baixa em 2023. Apesar disso, os investidores preveem que o mercado poderá regressar, com mais cautela e foco. Para Posamentier, “há mais capital de investimento disponível em todas as fases da alimentação e da agricultura do que nunca, mas os investidores estão mais exigentes do que nunca em uma década”.

Brian Bernstein, investidor da Rich Products Ventures, afirma que as rodadas iniciais e de extensão provavelmente diminuirão em favor de correções de avaliação. “As empresas ajudarão se aceitarem a realidade desta nova normalidade, mais cedo ou mais tarde”, justificou o executivo.