solucoes baseadas na natureza

Soluções baseadas na natureza são essenciais para o combate às mudanças climáticas

Brasil está se posicionando como um importante aliado no combate às mudanças climáticas, utilizando soluções baseadas na natureza

Redação

em 19 de outubro de 2023


“Estima-se que as soluções baseadas na natureza representam 37% de tudo o que nós precisamos avançar em termos de mitigação de efeitos causadores da crise climática”. A afirmação é de Eduardo Lorea, CEO e Founder da Numerik, que recentemente mediou um evento em São Paulo, promovido pelo Cubo Itaú e organizado pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) , sobre a COP e as soluções baseadas na natureza. Segundo ele, o Brasil está se posicionando como um importante aliado no combate às mudanças climáticas, utilizando, justamente, soluções baseadas na natureza.

O Brasil está estrategicamente posicionado nesse sentido, uma vez que conta com uma diversidade de biomas, sendo considerado o país com a maior biodiversidade do mundo. Além disso, está geograficamente localizado em uma área tropical que corresponde a aproximadamente 70% do território nacional. Os biomas tropicais do Brasil são a Amazônia, a Mata Atlântica e o Pantanal.

Algumas soluções para mitigar as mudanças climáticas são mais amplas e dependem da parceria público-privada. Políticas públicas se fazem necessárias para dar suporte às iniciativas, incluindo as soluções baseadas na natureza, para combater a crise climática.

“O mais interessante é que o avanço em produtividade entrega benefício. Sabemos a complexidade. O primeiro estágio da inovação é buscar formas mais eficientes do ponto de vista de uso de recursos para desempenhar alguma atividade, então mesmo com um trabalho mais simples, se pode entregar benefício na questão de recuperação ambiental”, afirmou Lorea. 

Investimentos em tecnologia e inovação

Para Patricia Daros, diretora de Soluções Baseadas na Natureza do Fundo Vale, quando se pensa no tema, três frentes precisam ser coordenadas: carbono, biotecnologia e biodiversidade. Nesse sentido, a Vale acredita na necessidade não só de manter florestas, mas também de criar novas áreas florestais e apoiá-las. “O que a gente vem fazendo e como podemos fortalecer esse ecossistema? Trazemos novos parceiros e abrimos diversas frentes. A ideia é fomentar, acelerar e apostar nesses negócios. Esse é um ponto fundamental. A outra coisa é proteger a floresta”, contou a diretora da Vale. Para ela, o próprio resultado da Jornada Amazônia mostrou o potencial da região para o empreendedorismo. 

“Contudo, ainda é um ecossistema prático e requer uma série de iniciativas que precisam ser fortalecidas. Isso depende de parcerias público-privada, envolvendo governos e outros blocos. Quando o assunto é clima, nada se faz sozinho, e a mudança sistêmica requer articulação”, apontou.

Patrícia é enfática ao afirmar que “não tem como avançar neste desafio de soluções baseadas na natureza sem investir em conhecimento científico”. 

O que diz o Imazon sobre as soluções baseadas na natureza?

O Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia) faz pesquisas na região há cerca de 33 anos, com o objetivo de buscar soluções para o desenvolvimento sustentável local. Para Ritaumaria Pereira, diretora executiva do Imazon, além da biodiversidade da Amazônia, é preciso pensar em soluções e iniciativas mais amplas. A Amazônia florestal, por exemplo, cria espaço para a bioeconomia. 

Nesse sentido, segundo ela, é preciso criar áreas protegidas para evitar a pressão na floresta. “Enquanto consumidores, temos que cobrar a origem da carne, a rastreabilidade. Devemos cobrar dos governos ações que aumentem a produtividade da produção de carne na Amazônia, mas que isso não exclua o pequeno produtor. Existem estudos que apontam que se aumentar a produtividade, a gente consegue liberar 37 milhões de hectares em 2030. Esses 37 milhões podem ser utilizados para restauração. Quem fica de fora dessa produção quando a gente aumenta a produtividade? Provavelmente são pequenos produtores que precisam ser inseridos no mercado. Então, é preciso pensar em como inseri-los novamente no processo. Qual é o papel do governo em mandar um sistema útil de assistência técnica? Tudo isso tem que ser cobrado de forma geral enquanto sociedade”, apontou a diretora executiva do Imazon.

Segundo ela, tudo isso precisa ser cobrado para que essa mudança não aconteça somente até a COP 30, que ocorrerá em Belém do Pará, mas que seja um legado não só para os jovens que vão participar, mas para as pessoas que vão continuar morando na Amazônia.

Com a palavra, a WWF

A WWF é uma ONG brasileira que está presente em mais de 100 países. No espaço de soluções baseadas na natureza, a WWF atua com colaboração internacional e tem forte incidência internacional. Para Barbara Bomfim, Carbon and Nature Based Solutions Specialist da WWF Brasil, se as soluções baseadas na natureza fossem aglutinadas em três pilares, seriam: o clima, o social e a biodiversidade. “Então, entendemos que estes três pilares precisam andar juntos. Senão não são soluções baseadas na natureza. Hoje temos um portfólio bem amplo, com muitas ações que contemplam as soluções baseadas na natureza (SBM)”, explicou.

povos indigenas

Ela apontou que entre os projetos estão os povos indígenas, por exemplo, com áreas protegidas e voltados para a unidade de conservação. Tem a área de Finanças verdes com o objetivo de aumentar o fluxo financeiro para alavancar soluções baseada na natureza, e ainda as frentes de restauração. “A gente trabalha de maneira bem colaborativa. Trabalhamos com outras ONGs, com comunidades locais, com algumas instâncias do governo, com empresas, entre outros. Entendemos que só com o ambiente colaborativo a gente consegue ter sucesso nessa frente de soluções baseadas na natureza”, completou. 

O WWF Estados Unidos e Dinamarca se uniram para desenvolver uma plataforma chamada SBSOP (plataforma de originação de soluções baseada natureza), entendendo o GAP financeiro que existe para os assuntos relacionados ao tema.  “Nossos projetos têm um gap entre 700 e 900 bilhões de dólares por ano. Então, eles pensaram: vamos ter uma plataforma que vai atuar em diversos países, onde temos escritórios WWF, e a gente vai alavancar as finanças, trabalhando de perto com parceiros que entendem o rigor de trabalhar com WWF. A plataforma já está no Brasil. Temos a Mata Atlântica como a paisagem que faz parte dessa plataforma, mas também estamos no México, em Madagascar, no Vietnã e no Peru”, explicou a representante da instituição.

Pacto Global e as soluções baseadas na natureza para a água

Para André Ramalho, Water Resilience Coalition Coordinator do Pacto Global, a conexão com a agenda de água era uma dificuldade até pouco tempo atrás. Segundo ele, pelo corporativo, era muito difícil as pessoas acreditarem nos modelos climáticos e que as crises iriam acontecer. “Eu não vou dizer que hoje acontece de uma forma mais fácil, né? Porque como vocês podem ver, já temos menções sobre a crise da Amazônia, o ciclone no Rio Grande do Sul, além de outros eventos. O fato é que a crise hídrica é uma realidade e é extremamente afetada pelo clima”, declarou. 

Segundo ele, o assunto da água entrou de vez na pauta das COPs e o Pacto Global está negociando para que a quetão seja tratada como um dos resultados da COP 28. “Infelizmente, a questão da água é uma das mais atrasadas. Agora, o setor corporativo começou a se juntar para trabalhar de forma coletiva, para ajudar a trazer resiliência e adaptação climática para as bacias hidrográficas, em um conceito no qual a gente trabalha com as empresas para mudarem sua mentalidade. Durante muitos anos o foco era a questão da eficiência. Então o que é importante é que se reduza o consumo, mas não adianta nada você reduzir o seu consumo se a vulnerabilidade da bacia como um todo continua aumentando”, pontuou o representante do Pacto Global.

Ele completa chamando a atenção para a Amazônia. “No caso da Amazônia, são pessoas morrendo, a diversidade sendo perdida e a economia afundando. Quando se vê, são hidrelétricas parando de funcionar. Esse é um momento de inflação, porque a taxa vai para vermelha, a energia fica mais cara, a gente aumenta nossas emissões e a água vai permeando tudo isso”, disse, mencionando que a iniciativa foi criada com o foco que gerar impacto positivo em 100 bacias hidrográficas com alto estresse no mundo. “Quatro delas estão no Brasil, e o objetivo foi justamente organizar essas empresas todas para que elas fortaleçam e invistam junto para que a gente consiga dar escala a projetos de recuperação que incluam principalmente soluções baseadas na natureza”, finalizou.