arvores no pasto

Árvores no pasto melhoram ganho de peso e qualidade de vida do gado

Microclima mais agradável permite que metabolismo do animal funcione melhor

Redação

em 21 de março de 2024


Um estudo coordenado pela Embrapa Pecuária Sudeste (SP) descobriu que árvores no pasto ampliam o bem-estar do gado e podem aumentar a produtividade da pecuária. O levantamento monitorou a relação entre microclima local, comportamento dos animais e o material biológico, para análise laboratorial posterior. Os dados confirmaram uma melhora no conforto térmico dos bovinos, a ponto de influenciar até em sua reprodução.

O estudo, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), envolveu o sobrevôo do pasto, com câmeras termais equipadas em um avião, e usou sensores próximos aos animais para complementar a pesquisa. Junto com as análises laboratoriais, as três abordagens foram suficientes para os pesquisadores afirmarem que o plantio de árvores em áreas de pastagens tropicais mostrou-se benéfico à criação de bovinos, por trazer um microclima mais favorável, que acaba influenciando no bem-estar do animal.

Estresse térmico compromete a produtividade

Segundo divulgação oficial da Embrapa, o estresse térmico prejudica a homeostase, que é a capacidade dos organismos de manterem seu meio interno estável. Ou seja, com o calor, o animal acaba tendo sua eficiência metabólica afetada e reduz sua capacidade de absorver nutrientes, impactando sua taxa de crescimento e o ganho de peso. Da mesma forma, essa condição também afeta a capacidade reprodutiva.

Com o estudo, a Embrapa espera incentivar o pecuarista a implementar mais árvores em sua propriedade, principalmente se ela é composta por um sistema de produção baseado em pastagens tropicais. Um dado importante da pesquisa mostra que, mesmo com a área de pasto tendo sido reduzida em favor das árvores, a qualidade da forragem produzida acaba sendo melhor, com maior teor de proteína bruta. Assim, o rebanho ganha tanto peso quanto o que fica a pleno sol.

Outro ponto é que animais criados em sistemas sombreados e em sistemas a pleno sol não tiveram diferenças de peso vivo, mas bovinos em ambientes arborizados reduziram a frequência de idas ao bebedouro. No período da tarde, os machos de corte reduziram em 26% a frequência de ida ao bebedouro. Esse resultado está de acordo com os 23% de redução de frequência ao bebedouro para vacas de corte mantidas em sistema integrado, previstos em um estudo publicado em 2019 pela própria Embrapa.

No curto, médio e longo prazo, essa redução na frequência ajuda a racionalizar o uso dos recursos hídricos na pecuária e colabora para uma produção mais sustentável.

O estudo foi realizado na Fazenda Canchim, sede da Embrapa Pecuária Sudeste, em São Carlos (SP), durante 13 meses para compreender um ciclo completo e percorrendo todas as estações climáticas, entre o verão de um ano até o verão do ano seguinte. Foram avaliados 64 machos das raças Nelore e Canchim, com 24 meses e peso médio de 412 kg no início da investigação científica. Os animais foram divididos em dois sistemas diferentes. Um de pastagem a pleno sol, com 12 hectares de capim Urochloa brizantha (cultivar Piatã) e poucas árvores, que ofertava entre 3% e 4% de sombreamento natural, índice similar ao adotado na maioria dos sistemas de produção a pasto no Brasil.

O outro sistema de produção era do tipo Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) – que significa que há árvores no pasto –, também com 12 hectares de Piatã, arborizado com eucaliptos. Em cada sistema foram mantidos animais Nelore e Canchim, que tiveram acesso irrestrito à água e à mistura mineral, e receberam o mesmo manejo sanitário.

A avaliação do comportamento considerou as atitudes de pastejo, ruminação, repouso, frequência de ingestão de água e de mistura mineral. Para os animais no ILPF, também foram analisados os tempos de permanência ao sol e à sombra.