Árvores no pasto melhoram ganho de peso e qualidade de vida do gado
Microclima mais agradável permite que metabolismo do animal funcione melhor
Um estudo coordenado pela Embrapa Pecuária Sudeste (SP) descobriu que árvores no pasto ampliam o bem-estar do gado e podem aumentar a produtividade da pecuária. O levantamento monitorou a relação entre microclima local, comportamento dos animais e o material biológico, para análise laboratorial posterior. Os dados confirmaram uma melhora no conforto térmico dos bovinos, a ponto de influenciar até em sua reprodução.
O estudo, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), envolveu o sobrevôo do pasto, com câmeras termais equipadas em um avião, e usou sensores próximos aos animais para complementar a pesquisa. Junto com as análises laboratoriais, as três abordagens foram suficientes para os pesquisadores afirmarem que o plantio de árvores em áreas de pastagens tropicais mostrou-se benéfico à criação de bovinos, por trazer um microclima mais favorável, que acaba influenciando no bem-estar do animal.
Estresse térmico compromete a produtividade
Segundo divulgação oficial da Embrapa, o estresse térmico prejudica a homeostase, que é a capacidade dos organismos de manterem seu meio interno estável. Ou seja, com o calor, o animal acaba tendo sua eficiência metabólica afetada e reduz sua capacidade de absorver nutrientes, impactando sua taxa de crescimento e o ganho de peso. Da mesma forma, essa condição também afeta a capacidade reprodutiva.
Com o estudo, a Embrapa espera incentivar o pecuarista a implementar mais árvores em sua propriedade, principalmente se ela é composta por um sistema de produção baseado em pastagens tropicais. Um dado importante da pesquisa mostra que, mesmo com a área de pasto tendo sido reduzida em favor das árvores, a qualidade da forragem produzida acaba sendo melhor, com maior teor de proteína bruta. Assim, o rebanho ganha tanto peso quanto o que fica a pleno sol.
Outro ponto é que animais criados em sistemas sombreados e em sistemas a pleno sol não tiveram diferenças de peso vivo, mas bovinos em ambientes arborizados reduziram a frequência de idas ao bebedouro. No período da tarde, os machos de corte reduziram em 26% a frequência de ida ao bebedouro. Esse resultado está de acordo com os 23% de redução de frequência ao bebedouro para vacas de corte mantidas em sistema integrado, previstos em um estudo publicado em 2019 pela própria Embrapa.
No curto, médio e longo prazo, essa redução na frequência ajuda a racionalizar o uso dos recursos hídricos na pecuária e colabora para uma produção mais sustentável.
O estudo foi realizado na Fazenda Canchim, sede da Embrapa Pecuária Sudeste, em São Carlos (SP), durante 13 meses para compreender um ciclo completo e percorrendo todas as estações climáticas, entre o verão de um ano até o verão do ano seguinte. Foram avaliados 64 machos das raças Nelore e Canchim, com 24 meses e peso médio de 412 kg no início da investigação científica. Os animais foram divididos em dois sistemas diferentes. Um de pastagem a pleno sol, com 12 hectares de capim Urochloa brizantha (cultivar Piatã) e poucas árvores, que ofertava entre 3% e 4% de sombreamento natural, índice similar ao adotado na maioria dos sistemas de produção a pasto no Brasil.
O outro sistema de produção era do tipo Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) – que significa que há árvores no pasto –, também com 12 hectares de Piatã, arborizado com eucaliptos. Em cada sistema foram mantidos animais Nelore e Canchim, que tiveram acesso irrestrito à água e à mistura mineral, e receberam o mesmo manejo sanitário.
A avaliação do comportamento considerou as atitudes de pastejo, ruminação, repouso, frequência de ingestão de água e de mistura mineral. Para os animais no ILPF, também foram analisados os tempos de permanência ao sol e à sombra.