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Eventos climáticos causam perdas e preocupam o agronegócio

Cada vez mais intensas, as mudanças climáticas trazem diversas consequências aos produtores agropecuários. Por isso, serviços de previsão do tempo ganham destaque

Joao

em 16 de fevereiro de 2024


No agronegócio, o uso de metodologias para acompanhamento do clima é um diferencial competitivo importante, pois ajuda a estabelecer as melhores estratégias de plantio e de colheita, além de decisões relacionadas à pecuária. Por isso, mais de 350 produtores brasileiros já estão conectados à plataforma Climatempo, que oferece serviços de previsão do tempo e de mudanças climatológicas, com boletins diários e alertas para eventos extremos, que favorecem a tomada de decisões. 

Desde o ano passado, inclusive, com o agravamento da crise climática, o interesse do segmento se tornou ainda maior, disse a meteorologista Nadiara Pereira, que abordou o assunto em apresentação no estande da Sicoob, durante o Show Rural Coopavel, primeiro grande evento do ano para o setor agro, realizado entre os dias 5 e 9 de fevereiro, em Cascavel (PR). 

“Os produtores rurais demandam previsões de curto e médio prazo, para decisões relacionadas ao plantio, mas não são os únicos que precisam do serviço. Fornecedores de insumos, de máquinas e implementos também buscam previsões de maior alcance, para  planejar sua produção e ter estoque”, explicou Nadiara, mencionando que até mesmo o tratamento de sementes deve levar em consideração as previsões de clima. 

El Niño deve trazer perdas para safra 2024

Segundo a especialista, o ano de 2023 foi caracterizado pelo fenômeno do El Niño, o que fez dele o mais quente já registrado desde que as medições começaram a ser efetuadas. Isso levou ao aumento de registros de eventos climáticos extremos, como chuvas acima da média na região Sul, estiagem severa no Centro-Oeste e no Norte, e atraso no período de chuvas em outras regiões, o que afeta diversas culturas no início da primavera. “O impacto disso na safra a ser colhida em 2024 será inevitável”, apontou Nadiara. 

Em coletiva durante o Show Rural, o secretário da Agricultura e do Abastecimento do Paraná, Norberto Ortigara, mencionou que, devido aos fatores climáticos, a estimativa de quebra de safra no estado é de 12% “Algumas regiões produtoras podem ter sido mais afetadas e virem a registrar prejuízos entre 20% a 30%”, afirmou. Segundo ele, o setor agrícola paranaense é composto, preponderantemente, por pequenos produtores. “Estamos trabalhando em um incentivo na área de irrigação, um plano de uso racional de água e um refinamento do zoneamento agrícola climático”, explicou.

Nadiara acrescentou que a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) também prevê queda no volume de várias culturas, em âmbito nacional. “Os produtores receiam que ela poderá ser ainda maior, semelhante à safra de 2015/2016, que também sofreu o efeito do mais forte El Niño registrado até aquela época e levou a 36% de perdas”, disse a meteorologista. Mas o agravante, hoje, é que as ondas de calor têm sido mais intensas. 

Anomalia da TSM em 10/01/2024, com destaque para o aquecimento no Pacífico equatorial, característica mais marcante do El Niño. O fenômeno está atualmente em seu pico de intensidade. (Foto: Reprodução/NOAA)

Além disso, o Climatempo alerta para a possibilidade de chegada de outro fenômeno, a La Niña, durante o inverno de 2024, e esta seguiria sendo a condição até o próximo verão, entre 2024 e 2025. “A probabilidade de instalação da La Niña já é superior a 50% no trimestre entre julho e setembro”, informou Nadiara. 

O resultado disso no Brasil, conforme estudo do Climatempo, serão chuvas mais volumosas do que o normal no Norte e no Nordeste, e tempo seco em amplas áreas do Centro-Sul do país, especialmente o Sul, que deve ficar mais vulnerável à estiagem, o que traz déficit hídrico no solo e acaba prejudicando algumas culturas.

Mudanças climáticas também comprometem a pecuária

Não é apenas a agricultura que acaba sendo afetada pelo clima. O Brasil, que tem um rebanho bovino de 234 milhões de animais, concentra cerca de 80% dessa criação na faixa intertropical, onde os efeitos das ondas de calor são mais intensos, segundo estimativas da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa Pecuária Sudeste).

Com isso, mesmo o gado Nelore, que é adaptado a climas mais quentes, acaba sofrendo desconforto com as temperaturas elevadas, o que pode comprometer sua saúde. Animais criados sob o sol, conforme a Embrapa, se deslocam mais para irem a bebedouros ou comer, por exemplo. Além disso, a fertilidade das fêmeas pode ser afetada e o leite produzido é de menor qualidade. 

Outro ponto de atenção é que, com o aumento de temperatura e excesso de seca, as pastagens também são prejudicadas, tornando-se menos proteicas e mais fibrosas, o que dificulta a digestão. Como reflexo, os animais precisam consumir mais alimentos para alcançarem o peso, e passam a produzir mais metano, um gás causador do efeito estufa. Para minimizar os efeitos disso, uma das alternativas apontadas pela Embrapa é a adoção de sistemas integrados de produção, como o ILPF (Integração Lavoura-Pecuária-Floresta), que possibilita unir a produção pecuária, agrícola e florestal, preservando recursos naturais.