Eventos climáticos causam perdas e preocupam o agronegócio
Cada vez mais intensas, as mudanças climáticas trazem diversas consequências aos produtores agropecuários. Por isso, serviços de previsão do tempo ganham destaque
No agronegócio, o uso de metodologias para acompanhamento do clima é um diferencial competitivo importante, pois ajuda a estabelecer as melhores estratégias de plantio e de colheita, além de decisões relacionadas à pecuária. Por isso, mais de 350 produtores brasileiros já estão conectados à plataforma Climatempo, que oferece serviços de previsão do tempo e de mudanças climatológicas, com boletins diários e alertas para eventos extremos, que favorecem a tomada de decisões.
Desde o ano passado, inclusive, com o agravamento da crise climática, o interesse do segmento se tornou ainda maior, disse a meteorologista Nadiara Pereira, que abordou o assunto em apresentação no estande da Sicoob, durante o Show Rural Coopavel, primeiro grande evento do ano para o setor agro, realizado entre os dias 5 e 9 de fevereiro, em Cascavel (PR).
“Os produtores rurais demandam previsões de curto e médio prazo, para decisões relacionadas ao plantio, mas não são os únicos que precisam do serviço. Fornecedores de insumos, de máquinas e implementos também buscam previsões de maior alcance, para planejar sua produção e ter estoque”, explicou Nadiara, mencionando que até mesmo o tratamento de sementes deve levar em consideração as previsões de clima.
El Niño deve trazer perdas para safra 2024
Segundo a especialista, o ano de 2023 foi caracterizado pelo fenômeno do El Niño, o que fez dele o mais quente já registrado desde que as medições começaram a ser efetuadas. Isso levou ao aumento de registros de eventos climáticos extremos, como chuvas acima da média na região Sul, estiagem severa no Centro-Oeste e no Norte, e atraso no período de chuvas em outras regiões, o que afeta diversas culturas no início da primavera. “O impacto disso na safra a ser colhida em 2024 será inevitável”, apontou Nadiara.
Em coletiva durante o Show Rural, o secretário da Agricultura e do Abastecimento do Paraná, Norberto Ortigara, mencionou que, devido aos fatores climáticos, a estimativa de quebra de safra no estado é de 12% “Algumas regiões produtoras podem ter sido mais afetadas e virem a registrar prejuízos entre 20% a 30%”, afirmou. Segundo ele, o setor agrícola paranaense é composto, preponderantemente, por pequenos produtores. “Estamos trabalhando em um incentivo na área de irrigação, um plano de uso racional de água e um refinamento do zoneamento agrícola climático”, explicou.
Nadiara acrescentou que a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) também prevê queda no volume de várias culturas, em âmbito nacional. “Os produtores receiam que ela poderá ser ainda maior, semelhante à safra de 2015/2016, que também sofreu o efeito do mais forte El Niño registrado até aquela época e levou a 36% de perdas”, disse a meteorologista. Mas o agravante, hoje, é que as ondas de calor têm sido mais intensas.
Além disso, o Climatempo alerta para a possibilidade de chegada de outro fenômeno, a La Niña, durante o inverno de 2024, e esta seguiria sendo a condição até o próximo verão, entre 2024 e 2025. “A probabilidade de instalação da La Niña já é superior a 50% no trimestre entre julho e setembro”, informou Nadiara.
O resultado disso no Brasil, conforme estudo do Climatempo, serão chuvas mais volumosas do que o normal no Norte e no Nordeste, e tempo seco em amplas áreas do Centro-Sul do país, especialmente o Sul, que deve ficar mais vulnerável à estiagem, o que traz déficit hídrico no solo e acaba prejudicando algumas culturas.
Mudanças climáticas também comprometem a pecuária
Não é apenas a agricultura que acaba sendo afetada pelo clima. O Brasil, que tem um rebanho bovino de 234 milhões de animais, concentra cerca de 80% dessa criação na faixa intertropical, onde os efeitos das ondas de calor são mais intensos, segundo estimativas da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa Pecuária Sudeste).
Com isso, mesmo o gado Nelore, que é adaptado a climas mais quentes, acaba sofrendo desconforto com as temperaturas elevadas, o que pode comprometer sua saúde. Animais criados sob o sol, conforme a Embrapa, se deslocam mais para irem a bebedouros ou comer, por exemplo. Além disso, a fertilidade das fêmeas pode ser afetada e o leite produzido é de menor qualidade.
Outro ponto de atenção é que, com o aumento de temperatura e excesso de seca, as pastagens também são prejudicadas, tornando-se menos proteicas e mais fibrosas, o que dificulta a digestão. Como reflexo, os animais precisam consumir mais alimentos para alcançarem o peso, e passam a produzir mais metano, um gás causador do efeito estufa. Para minimizar os efeitos disso, uma das alternativas apontadas pela Embrapa é a adoção de sistemas integrados de produção, como o ILPF (Integração Lavoura-Pecuária-Floresta), que possibilita unir a produção pecuária, agrícola e florestal, preservando recursos naturais.