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Floresta viva deve ser agenda da COP 30, diz governador do PA

Segundo Helder Barbalho, discussões devem incluir financiamento, empregos verdes e não se reduzirem ao desmatamento

Redação

em 15 de setembro de 2023


A floresta viva pode tirar ou colocar o Brasil na agenda mundial, segundo Helder Barbalho, governador do Pará. A fala aconteceu durante o debate sobre a 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP 30) no evento Brazil Climate Summit, em Nova York. Com sede em Belém, a COP 30 acontece daqui a dois anos e, segundo Barbalho, o Brasil deve liderar a discussão sobre financiamento da floresta viva, um tema que começa a ser debatido neste ano, na COP 28.

Na avaliação do político, o foco no financiamento poderá garantir o desenvolvimento sustentável e a manutenção de empregos verdes na Amazônia, entre outras questões.

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Foto: Freepik

“Na transição para uma economia verde, a floresta viva vale mais do que a floresta morta. É um ativo extraordinário para gerar empregos verdes em uma cadeia econômica que agrega valor, sendo conciliada com agricultura e pecuária”, disse o governador. Para ele, a floresta viva deve ser o tema principal da COP 30, o que justifica a ligação com a necessidade de financiamento.

Barbalho argumentou, ainda, que o desmatamento não pode protagonizar o encontro mundial e nem ser um argumento de pressão sobre o Brasil. Pelo contrário, para ele, a mudança de atitude do país em relação à discussão ambiental deve ser uma oportunidade para repensar as escolhas políticas inadequadas, que levaram os estados a assumirem um papel que deveria ser do governo federal.

Como amazônida, nascido em Belém, o governador também destacou que é necessário falar da floresta com propriedade. No caso do Pará, por exemplo, 70% do estado é tomado pela floresta nativa. Nos 30% de seu território, os paraenses se posicionam, entre outros detalhes, como o segundo maior produtor de rebanho bovino do Brasil e como importante estado minerador, disputando o protagonismo com Minas Gerais.

Pecuária e mineração conciliadas com a floresta

“Combater a pecuária e a mineração não é nem real, nem efetivo. Temos que ter um pacto global contra a ilegalidade ambiental, usando a força do estado para reduzir o desmatamento e caminhar para a transição para a economia verde”, declarou. “Não devemos renunciar à floresta viva, mas precisamos definir quem financia, como e de que maneira”, reforçou.

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Foto: Divulgação / Agência Pará

Barbalho dividiu o debate com o editor do jornal Financial Times para a América Latina, Michael Stott, mediador da conversa, e com Amanda da Cruz Costa, liderança jovem da iniciativa Global Compact, da ONU, e fundadora da ONG Perifa Sustentável. O embaixador André Corrêa do Lago, secretário de Clima, Energia e Meio-ambiente do ministério das Relações Exteriores, também esteve presente e defendeu o momento positivo do Brasil no contexto global.

De acordo com ele, além de presidir o G 20, grupo das 20 maiores economias do planeta, o Brasil é ator relevante dos BRICS, agora ampliado, e deve protagonizar as discussões climáticas. Corrêa do Lago chama a atenção para o momento de urgência climática e avalia que a discussão futura na COP 30 precisa envolver o combate ao crime organizado na Amazônia e a defesa de um ponto de vista de não retorno em relação à preservação da floresta.

“Certas conferencias são históricas, como a Rio 92. A COP 30 será Paris + 10”, avaliou o diplomata, ao lembrar que a conferencia no Brasil acontecerá uma década depois do encontro na capital francesa, que vem pautando a política mundial de combate às mudanças climáticas.

Corrêa do Lago concorda com Barbalho sobre a discussão não se reduzir apenas ao desmatamento, mas ressalta que o assunto é sério, uma vez que as florestas – não só as do Brasil – podem contribuir com a redução das emissões de gases de efeito estufa. O embaixador também defendeu o papel dos cientistas brasileiros no conhecimento da floresta amazônica e reforçou que são os pesquisadores nacionais os maiores conhecedores do bioma.

Justiça climática será foco da COP 30

A ativista Amanda Costa trouxe outros elementos para a discussão, ao destacar que a COP 30 não pode deixar de incluir a população da região. Para ela, a diversidade deve ser tema da conferência e o conhecimento nativo tem que ser reconhecido. A representatividade não deve ser apenas racial – com destaque para as comunidades indígenas e para a população negra –, mas também geracional, adicionando a representatividade dos jovens brasileiros, que, segundo ela, somam 47 milhões de pessoas.

Para Amanda, outro tema que precisa fazer parte dos debates da COP 30 é a justiça climática, uma vez que a população mais vulnerável economicamente já vem sentindo os efeitos das mudanças. Segundo ela, o chamado Sul Global também tem pago uma conta, cujo principal vetor são os efeitos climáticos negativos produzidos pelas economias industrializadas do Norte Global.

Ela destacou, ainda, que as Soluções Baseadas na Natureza (NBS) devem ser valorizadas e cunhou um novo termo – Soluções Baseadas na Periferia – como outro conhecimento não acadêmico, mas necessário para combater os efeitos de mudança de clima entre a população mais vulnerável.

“A COP 30 é uma oportunidade de colocar o Brasil em destaque na discussão sobre meio ambiente no mundo, porém, sem repetir práticas colonialistas”, finalizou.