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Produzir, conservar e incluir é a nova ordem da indústria de alimentos no Brasil

Evento realizado pela Marfrig em Londres mostra que a indústria de alimentos precisa garantir a sustentabilidade

Redação

em 2 de junho de 2023


Com o crescimento da população global e a urgência climática, a segurança alimentar é desafio crescente em várias partes do mundo, ampliando as demandas por estratégias de produção conscientes. “É preciso produzir e, ao mesmo tempo, conservar e incluir”, disse Marcella Molina, que integra o comitê de sustentabilidade da Marfrig, durante evento realizado pela empresa no Chatham House Sustainability Accelerator, em Londres, no dia 24 de maio. 

Fonte: Instagram / Marcella Marfrig

Um dos objetivos do evento foi mostrar as boas práticas de produção sustentável e discutir os meios para construir o futuro sustentável. “Essa trajetória, na Marfrig, começou em 2009, quando assinamos um compromisso com o Greenpeace para que não houvesse mais desmatamento na Amazônia ligado à nossa atividade”, contou Marcella. “Em 2010, lançamos um programa de monitoramento por satélite; em 2018 estabelecemos um protocolo com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) para a produção de carne bovina livre de carbono, reduzindo emissões e desmatamento nas áreas produtivas”, acrescentou. 

Marcella destacou que tais objetivos se tornaram possíveis na empresa com a adoção de meios para controlar a rastreabilidade dos fornecedores. “Em 2022 atingimos 100% de rastreabilidade dos fornecedores da região da Amazônia e 74% do Cerrado. Queremos avançar nisso, incluindo os fornecedores indiretos. É um compromisso da Marfrig, reconhecida como a empresa de carne bovina número um em termos de sustentabilidade”, pontuou.

Vale explicar que o Reino Unido e a União Europeia já adotaram medidas para inibir a entrada de commodities procedentes de áreas de desmatamento. 

Produção brasileira e a insegurança alimentar

Jorge Viana, presidente da ApexBrasil, citou os desafios climáticos, desigualdades sociais e escassez hídrica, ressaltando que o Brasil tem papel fundamental para reduzir a fome no mundo, sem causar mais poluição. “Temos um enorme território para a produção agropecuária e, agora, com o novo governo, um compromisso de fim do desmatamento ilegal e respeito às populações locais”, explicou. “Nossa população de bovinos é da ordem de 220 milhões, sendo que pelo menos 80% vivem em pasto, diferentemente da Europa, onde a falta de áreas livres e o clima não contribui para isso”, afirmou. 

Viana mencionou que a atividade agropecuária ocupa 160 milhões de hectares no Brasil. Novas tecnologias permitiram que houvesse um aumento de 109% da produção, reduzindo 15% do total da área ocupada. “O país tem total condições de contribuir para evitar a insegurança alimentar sem afetar a sustentabilidade”, frisou. 

Walter Baethgen, pesquisador sênior da Climate School/Universidade Columbia, falou sobre a preocupação global na produção de alimentos e os impactos disso ao ecossistema, frisando que grande parte dos países, especialmente a União Europeia, tendem a não comprar mais os itens oriundos de locais que não estão alinhados às boas práticas de preservação.

“Estamos muito preocupados com emissões de gases de efeito estufa, que levam a eventos climáticos sérios. E há muito o que fazer nos sistemas alimentares, sendo preciso adotar padrões globais de boas práticas”, disse. 

Baethgen mencionou que esse questionamento atinge, pelo menos, um terço da população mundial. “Isso faz mais sentido em um país como os Estados Unidos, onde as pessoas consomem, per capita, 120 quilos de carne por ano. Já em locais como a África, o consumo é bem menor, de cerca de 10 quilos anuais. E é justamente esta população que mais sofre com os impactos do clima e os efeitos da falta de alimentos. Então, a produção mundial precisa encontrar um ponto de equilíbrio”, explicou.

Brasil está um passo à frente, diz Izabela Teixeira

Para a ex-ministra do Meio Ambiente e co-chair do Painel Internacional de Recursos Naturais da ONU, Izabela Teixeira, o Brasil está bem à frente tanto na questão da sustentabilidade quanto em relação às boas práticas ambientais na cadeia alimentar.

“Todos nós sabemos que os combustíveis fósseis são os maiores responsáveis pelas emissões de gases do efeito estufa, e, embora eles ainda sejam os mais utilizados na mobilidade no Brasil, nossa matriz energética é uma das mais renováveis do mundo. Temos biocombustíveis adicionados aos combustíveis fósseis, energia solar, eólica, biomassa e estudos para novas fontes”, afirmou. “A matriz energética no Brasil, hoje, é a que a Europa almeja em 2026/2027. Nosso principal compromisso atual é mitigar o desmatamento e eliminar as emissões geradas pela agropecuária”.

Segundo Izabela, o Brasil precisa ‘fazer melhor’ o que já está sendo feito. “Os principais desafios estão na cadeia de fornecimento”, apontou, mencionando que o Brasil tem características diferenciadas, como a grande área de floresta atlântica (além da Amazônia) e bom relacionamento com as nações vizinhas. 

A visão é a mesma de Luiz Amaral, CEO da Science Based Targets (SBTi), que desenvolve padrões para que as empresas possam cumprir as metas de redução de emissões, em todo o mundo. “No Brasil, as questões relacionadas ao uso da terra e aos sistemas alimentares estão muito à frente do restante do mundo. Lidar com o desmatamento e uso adequado da terra representa custos marginais menores. A maior (e mais difícil) meta relacionada às emissões é, realmente, ter controle sobre toda a cadeia de fornecedores”, pontuou, mencionando que, embora a maior parte das emissões realmente venha de combustíveis fósseis, “não podemos desconsiderar aquelas oriundas da agropecuária”.

Para Paulo Pianez, diretor de Sustentabilidade e Comunicação Corporativa da Marfrig, a rastreabilidade na pecuária é a melhor alternativa para conseguir garantir as boas práticas na cadeia de fornecimento e evitar as emissões deste elo da cadeia. Ele citou que o Brasil já tem mecanismos para tanto. “Temos a Guia de Trânsito Animal (GTA), documento com finalidade sanitária, que também deveria ser utilizada para fins de rastreabilidade da origem e destino de cada bovino”, exemplificou. Pianez defendeu, também o rastreamento individual dos animais, que podem receber chips, a exemplo do que já ocorre no Uruguai e Austrália. 

“Isso é importante para entendermos a movimentação de toda a cadeia de fornecedores e garantirmos que nossos produtos não são oriundos de áreas de desmatamento. Esse é um compromisso da Marfrig e estamos muito perto de conseguir o controle de toda a cadeia, mas também é preciso contar com o apoio de incentivos governamentais”, finalizou.