pecuaria mais sustentavel

Brasil: o que é preciso para ter uma pecuária mais sustentável?

Um dos grandes desafios do agronegócio brasileiro é estabelecer uma pecuária mais sustentável, principalmente no que diz respeito às exigências internacionais

Redação

em 1 de março de 2024


Com o aumento das exportações de carne bovina, a pecuária brasileira está sob pressão internacional para que atue de forma cada vez mais sustentável e transparente. Apesar de avanços no setor produtivo, no mercado internacional ainda existe a imagem de que o Brasil tem o crescimento da pecuária associado ao desmatamento da Amazônia e às emissões de metano, fatores que contribuem para o aquecimento global.

Por outro lado, o Brasil realiza, há anos, pesquisas para o desenvolvimento de sistemas de produtivos que agreguem sustentabilidade e competitividade à pecuária nacional. A pecuária de precisão e a pecuária 4.0, por exemplo, utilizam tecnologias para uma gestão eficiente e sustentável do setor no país.

Pecuária mais sustentável

A pecuária sustentável reúne técnicas que visam a produção de carne, couro, leite e derivados com consciência ambiental, eficiência, bem-estar animal e responsabilidade social.

De acordo com o AgroSmart, atuar de forma sustentável deve ser a meta de todo pecuarista. E uma das justificativas para isso é a competitividade no mercado de proteína animal e de couro.

Até 2030 o Brasil deve apresentar um crescimento de  41,88% nas exportações do produto. Para tanto, será preciso aperfeiçoar sistemas de produção, conquistar novas certificações internacionais e adotar estratégias que promovam maior transparência nos processos. A pecuária de precisão e a pecuária 4.0 devem avançar ainda mais.  

Nesse sentido, algumas técnicas como a identificação animal automatizada, pesagem eletrônica e dados individuais coletados por meio de colares ou brincos com sensores devem aparecer cada vez mais nos rebanhos.

Tecnologia nas fazendas

pecuaria mais sustentavel

A pecuária 4.0 é toda baseada no uso de tecnologia, por isso é comum encontrar o uso de inteligência artificial, internet das coisas (IoT) e big data. Esses são elementos que favorecem a automação dos processos e a apuração dos dados coletados em tempo real, o que, por consequência, permite uma tomada de decisão mais rápida e assertiva.  

Instituições públicas e privadas também pesquisam sobre o tema. A Embrapa, por exemplo, estuda modelos de pecuária sustentável há anos, no Brasil. A proposta é identificar novos sistemas de produção que utilizem menos água e outros insumos, causando menor impacto ao meio ambiente e contribuindo para a produtividade.

Sistemas ILPF

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Foto: Gabriel Rezende Faria/Embrapa Agrossilvipastoril

O sistema de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta é um capítulo à parte quando o assunto é pecuária sustentável.

A Embrapa desenvolveu o ILPF pensando na produção integrada de carne e leite, na mesma área em que são produzidos grãos, madeira, energia, e outros. Neste sistema, são planejados plantios para o verão, como soja, sorgo, milho, feijão, arroz, por exemplo, intercalado com o plantio de árvores, e nessa mesma área, o plantio de capim e a criação de animais. Um tipo de produção beneficia o outro. 

Segundo a Embrapa, o sistema que resulta na melhoria da qualidade do solo e da água, permite a redução do uso de agrotóxicos e reduz a vulnerabilidade do sistema aos riscos climáticos. O ILPF tem como principal objetivo a otimização de recursos, principalmente os naturais, além da mão de obra e dos insumos agrícolas. Trata-se de um sistema que permite o cultivo conjunto, e de tal forma, colabora com o bem-estar dos animais que contam com sombras naturais para descansar. O tipo de combinação que será cultivado depende da localidade da propriedade, podendo ser lavoura-pecuária-floresta, lavoura-pecuária, silvipastoril ou agroflorestal

Crédito de carbono

Outro fator que colabora para a pecuária mais sustentável é a possível geração de crédito de carbono na pecuária — com média lotação do pasto, de 3,3 UA (unidades animais por hectare). Entre as vantagens estão a recuperação da pastagem degradada e a neutralização de gases de efeito estufa resultantes da pecuária, entre eles: metano ruminal, metano e óxido nitroso do sistema solo-planta.

Existem sistemas que apresentam maior sequestro de carbono no solo em relação às emissões. Vale ressaltar as produções de sequeiro, com média lotação animal em pastagem de brachiaria, e alta lotação animal em pastagens de panicum, que corroboram com essa teoria e, na prática, apresentam maior sequestro de carbono no solo.

Alguns desafios para uma pecuária mais sustentável

Mesmo com a baixa conectividade em áreas rurais, o uso da tecnologia na pecuária vem agregando bons resultados às propriedades. O desafio é ampliar a conectividade em áreas mais isoladas, o que tem sido feito por meio da expansão do 5G e também por satélites.

Outro grande desafio para uma pecuária mais sustentável é a comprovação de origem e a rastreabilidade da carne para os compradores internacionais. Nesse sentido, o Brasil ainda caminha a passos mais lentos, uma vez que a obrigatoriedade de rastreabilidade é apenas para vegetais e frutas frescas destinadas à alimentação humana (nacionais e importadas), devido aos resíduos de agrotóxicos.

Por outro lado, o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) tem em vigor a instrução normativa nº 51/2018, que instituiu o Sistema Brasileiro de Identificação de Bovinos e Búfalos (Sisbov), cuja adesão é voluntária. A exceção é válida somente para casos em que seja necessário controlar eventuais problemas sanitários.

Uma pecuária mais sustentável no Brasil é possível e necessária para manter o país competitivo, principalmente no mercado internacional. Contudo, para que ela se torne de fato uma realidade, é preciso que os pecuaristas busquem cada vez mais atualizações. Manter uma gestão eficiente da fazenda utilizando técnicas de pecuária de precisão e pecuária 4.0 é uma das alternativas, assim como apostar na rastreabilidade da cadeia produtiva ,de forma a comprovar a origem dos produtos.